domingo, 14 de dezembro de 2008

Com a mão na História (de Atenas)

O presente trabalho foi desenvolvido nas aulas de História A do Professor Mário Costa, a partir da audição de uma música de Chico Buarque, intitulada Mulheres de Atenas:

Pablo Picasso - Girl before mirror

Ao ouvir a música de Chico Buarque, Mulheres de Atenas, cria-se uma dúvida e expectativa acerca da letra. À primeira vista, numa análise muito primária, somos levados a pensar que os autores são apologistas de uma maneira de viver à moda de Atenas, em que as mulheres deveriam submeter-se aos seus maridos, independentemente da sua felicidade ou não.
A letra transporta-nos para um tempo da História em que a sociedade grega assim encarava o papel da mulher como um ser inferior. Os autores servem-se das obras de Homero (Ilíada e Odisseia) para retratar a posição das mulheres no séc. V a.C., nomeadamente a história de Penélope, mulher de Ulisses, que esperou pelo regresso do seu marido durante 20 anos e a história de Helena, esposa submissa do Rei de Esparta que foi raptada pelo príncipe troiano, Páris.
Mas, na realidade, o que os autores pretendem é alertar as mulheres que ainda vivem de acordo com esses ideais de fidelidade e submissão, à semelhança daquele modelo ateniense.
O próprio Chico Buarque, após ter sido confrontado pelas mulheres que defendiam o ideal feminista, esclareceu que tinha sido mal interpretado. Refere que o início e o fim da letra são esclarecedores do que quer transmitir: "Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas". Com isto, ele pretende defender precisamente o contrário, para que casos de submissão escravizante não se verifiquem nos dias de hoje.
Sabemos que, hoje em dia, ainda se assiste a casos semelhantes, em que as mulheres vivem submissas e escravizadas pelos maridos, assumindo apenas um papel de procriadoras e donas de casa. Muitas vezes por falta de coragem em se auto-afirmarem, mas em certos casos, também por impossibilidade de o fazerem, uma vez que, na nossa sociedade, há muitas mulheres que dependem economicamente dos maridos para a sua sobrevivência, o que, infelizmente, as torna incapazes de se libertarem.
Assim sendo, poderíamos, em tom de crítica social e apelo à consciência de todos nós, abrir um mote para uma nova canção: "Cuidem das mulheres de Atenas..."

Joana Recharte
10.º 2




Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem prós seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Guardam-se pros seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas, não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Um pouco de História

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi apresentada a 10 de Dezembro de 1948. É um documento redigido no âmbito da Organização das Nações Unidas, fundada no rescaldo da II Guerra Mundial (1939-1945) e aprovado na Assembleia Geral daquela Organização, tendo obtido 48 votos a favor, 8 abstenções e nenhum voto contra. Na altura, houve necessidade de redigir um documento desta natureza, face aos acontecimentos sombrios que ocorreram durante o período de guerra, ainda na memória de todos.
Foi T. W. Adorno* que afirmou que depois de Auschwitz* seria impossível escrever mais poesia. Com isto, Adorno pretende chamar a atenção para a necessidade de não esquecermos as atrocidades cometidas durante o período de guerra, a fim de não deixarmos que tornem a repetir-se. A Declaração Universal dos Direitos Humanos surge exactamente como uma espécie de compromisso assumido pelos países que a assinaram, um compromisso de respeito perante o Outro, qualquer seja a sua cor, sexo, etnia, credo, convicção, condicção social, etc.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi o primeiro instrumento internacional a fixar normas promotoras dos direitos civis, políticos, religiosos, sociais, culturais e económicos para todos.


* Filósofo e sociólogo alemão de origem judaica que nasceu em 1903 e faleceu em 1969. Teve que exilar-se por causa da perseguição movida contra os judeus pelo regime Nacional Socialista Alemão.

*Auschwitz é um dos campos de concentração criados pelos Nazis na II Guerra Mundial e onde foram exploradas e por fim exterminadas milhões de pessoas em função do facto de serem judias, de etnia cigana, homossexuais, portadoras de deficiência ou opositoras ao regime nazi.

Nascemos iguais...




...em dignidade e direitos.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

É bom que se insista

Mudamos a música do blog porque esta é a semana da celebração da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 de Dezembro). Ouve com atenção a proposta de Sérgio Godinho. Conversemos sobre o poema e dancemos, também nós, no Mundo:


"Isto é como tudo
não há-de ser nada
a minha namorada
é tudo que eu queira
mas vive para lá da fronteira

Separam-nos cordas
separam-nos credos
e creio que medos
e creio que leis
nos colam à pele papéis

Tratados, acordos
são pântanos, lodos

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só

Por ódio passado
(que seja maldito)
amor favorito
não tem importância
se for é de circunstância

Separam-nos crimes
separam-nos cores
a noite é de horrores
quem disse que é lindo
o sol-posto de um dia findo

Sozinho adormeço
E em teu corpo apareço
Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só

Em passos tão simples
trocar endereços
num mundo de acessos
ar onde sufocas
lugar de supostas trocas

Separam-nos facas
separam-nos fatwas
pai-nossos e datas
e excomunhões
acondicionando paixões


Acenda-se a tua
luz na minha rua

Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só."

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Muitas mulheres, em Portugal e em todo o Mundo, sofrem de violência física, psicológica, sexual...

Muitas mulheres sofrem todos os dias agressões, mas não denunciam o agressor...

Algumas mulheres sofrem-nas como se já fizessem parte das suas rotinas.


10.º 1
João Ferreira, n.º 6
Cláudia Piquita, n.º 9